Propaganda das Riquezas Naturais

por Walnice Nogueira Galvão
Como exemplos desse tipo de literatura, chamada de "cronistas e viajantes", seguem-se dois trechos. O primeiro pertence aos Diálogos das Grandezas do Brasil (1618), de Ambrósio Fernandes Brandão: "Tem seu princípio esta terra, a respeito do que está hoje em dia povoado dos portugueses, do rio das Amazonas, por outro nome chamado o Pará, que está situado no meio da linha equinocial até a capitania de São Vicente, que é a última das da parte do Sul da dita linha, e entre esta primeira povoação e a última de São Vicente há muitas terras fertilíssimas, povoações, notáveis rios, famosos portos e baías capacíssimas de se recolherem neles e nelas grandes armadas". O segundo é extraído da História do Brasil (1627) de Frei Vicente do Salvador: "Há no Brasil grandíssimas matas de árvores agrestes, cedros, carvalhos, vinháticos, angelins e outras não conhecidas em Espanha, de madeiras fortíssimas para se poderem fazer delas fortíssimos galeões e, o que mais é, que da casca de algumas se tira a estopa para se calafetarem e fazerem cordas para enxárcia e amarras, do que tudo se aproveitam os que querem cá fazer navios, e se pudera aproveitar el-rei se cá os mandara fazer (...). Nem menos são as madeiras do Brasil formosas que fortes, porque as há de todas as cores, brancas, negras, vermelhas, amarelas, roxas, rosadas e jaspeadas, porém, tirado o pau vermelho a que chamam brasil, e o amarelo chamado tataiúba, e o rosado araribá, os mais não dão tinta de suas cores (...). Outras árvores há chamadas caboreíbas, que dão o suavíssimo bálsamo com que se fazem as mesmas curas, e o Sumo Pontíficeo tem declarado por matéria legítima da santa unção e crisma..." Antes deles, no primeiro século, o Padre José de Anchieta (1534-1597) se defrontava com os problemas do bilingüismo, ao escrever peças de teatro em tupi endereçadas à conversão dos índios, além de ser bom poeta lírico no registro religioso. Pouco depois, Bento Teixeira escrevia a Prosopopéia (1601), considerada a primeira obra literária legitimamente brasileira, poema encomiástico - do tipo que vicejaria nos tempos coloniais - em louvor do donatário da capitania de Pernambuco.